VIZUALIZAÇÕES

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A Realidade do Purgatório

      O Purgatório é um estágio inevitável para quase todos eleitos que entrarão na Jerusalém Celeste; é uma purificação dos resquícios de maldade que provavelmente restarão em nós.

      O critério para entrar no Céu é amar como Jesus amou. Porém, por mais que nos esforçamos hoje, não estamos ainda irrepreensíveis e, mesmo que confessemos todas as nossas faltas, moralmente teremos que reparar os danos causado por elas.

      Mas o dom da Salvação não é gratuito?

      Sim! Ninguém é digno do Céu por seus próprios méritos. A realidade do Purgatório não tem a ver com méritos: “ter que pagar o ‘karma’ para ter direito ao Céu”. Não! Não é questão disso. É questão de justiça. Imagine que você seja convidado a vir à minha casa tomar um café e que eu precise sair por alguns instantes por alguma necessidade. Durante o período em que confiei de deixar você na minha casa, em um acesso de loucura, você a destrua, quebre meus móveis, meus eletrodomésticos, revire minhas coisas, rasgue meus livros, meus documentos... No meu retorno, ao me deparar com aquele estrago e ao mesmo tempo receber o seu pedido de desculpas, por considerar que você está realmente arrependido(a), eu te perdoo, te abraço, te absolvo. Porém, a minha casa estará destruída. O meu perdão não anula as consequências do teu erro. Então proponho o seguinte: vamos reconstruir a minha casa. Eu ajudo você. O meu amor te fortalece, mas vamos restaurar a minha morada!

      Assim é Deus conosco. Ele nos ama, nos oferece a graça, o brilho nos olhos para viver, mas é preciso que reparemos as nossas faltas. Tudo o que fizemos de mau e também todo o bem que deixamos de fazer precisa, por justiça, ser reparado. O problema é que podemos falecer antes de contribuir com essa restauração e morremos com “as vestes sujas”. Não só questão de uma exigência divina, mas também um dever moral. Com que cara iríamos abraçar a Deus se, ao contemplar a sua face, nos lembrássemos de todos que maltratamos em nossa vida terrena?

      “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.” (Mateus 25,40)

      Para ajudar na compreensão deste dogma de fé, pesquisei algumas citações:

      “Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo.” (I Coríntios 3, 11-15)

      “Porque todo homem será salgado pelo fogo.” (Marcos 9, 49).

      A respeito de Jesus, disse João Batista: “Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. Tem na mão a pá, limpará o seu quintal e recolherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível.” (Mateus 3, 12)

      “Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça. E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz! Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto.” (Sabedoria 3,1-3.6)

     “Quando havia reunido seu exército, Judas Macabeu alcançou a cidade de Odolão e, chegando o sétimo dia da semana, purificaram-se segundo o costume, celebrando ali o sábado. No dia seguinte, Judas Macabeu e seus companheiros foram tirar os corpos dos mortos (na guerra), como era necessário, para depô-los na sepultura ao lado de seus pais. Porém, sob a túnica de cada um encontraram objetos consagrados aos ídolos de Jânia, proibidos aos judeus pela lei: todos, pois, reconheceram que fora esta a causa de sua morte. Bendisseram, pois, a mão do justo juiz, o Senhor, que faz aparecer as coisas ocultas, e puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar qualquer transgressão, ao ver diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por causa dos pecados. Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: um belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício reparador para que os mortos fossem livres de suas faltas.” (II Macabeus 12, 38-46)

     “Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício do seu pai por que duvidar de que as nossas oferendas pelos defuntos lhes levam alguma consolação? [...] Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer por eles as nossas orações.” (São João Crisóstomo)

     “Pelo que diz respeito a certas faltas leves, deve crer-se que existe, antes do julgamento, um fogo purificador, conforme afirma Aquele que é a verdade, quando diz que, se alguém proferir uma blasfêmia contra o Espírito Santo, isso não lhe será perdoado nem neste século nem no século futuro (Mateus 12, 32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas neste mundo e outras no mundo que há de vir.” (São Gregório Magno)

      E aquela ideia de que os mortos dormem?

     “Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. Eles clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra?” (Apocalipse 6,9-10).

     Se as almas dos que morrem por testemunharem Jesus dormem, como elas podem clamar?

   “Dias antes de morrer, Jesus subiu com Pedro, Tiago e João a um monte chamado Tabor e se transfigurou (mudou de aparência) diante deles. Neste momento surgiram dois personagens do Antigo Testamento: Moisés e Elias falando da paixão de Jesus que iria acontecer em Jerusalém.” (cf. Lucas 9, 28-31). Se os mortos dormem, como é que Moisés e Elias conversaram com Jesus?

     De fato, na separação do corpo e da alma, a qual chamamos morte, o corpo adormece, mas a alma permanece viva em Deus; o corpo “adormece” na terra aguardando a ressurreição, mas a alma vai ao encontro do Senhor!

     “(Disse Jesus aos saduceus:) não lestes no livro de Moisés como Deus lhe falou da sarça, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, senão de vivos.” (Marcos 12, 26-27)

    “Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, da multidão de anjos, da assembleia festiva dos primeiros inscritos no livro dos Céus, de Deus, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição.” (Hebreus 12, 22-23)

     A palavra sono indica um breve momento. Assim como, quem dorme, acorda logo em seguida, quando dormimos para este mundo acordamos para a vida eterna!

      Nós católicos cremos na comunhão dos santos, no intercâmbio de amor entre a Igreja Militante (constituída pelos que batalham nesta Terra), a Igreja Padecente (formada pelos que estão no Purgatório) e a Igreja Triunfante (os que já contemplam Deus na glória)!



Nenhum comentário:

Postar um comentário