Para cancelar o decreto de “morrerás”, assumido pelo homem ao desobedecer a Deus, o Verbo precisou não apenas morrer no corpo, mas também na alma, não no sentido espiritual — pois aí tudo estaria perdido —, mas no sentido natural: consumido em seu ânimo de vida temporal. Partindo deste princípio, vemos que a maior dor humana não é física, mas imaterial.
Se bastasse ao Verbo morrer no corpo, uma simples condenação por enforcamento resolveria a questão. Não seria necessário ser traído por um amigo, rejeitado pelos chefes do povo — aqueles mesmos constituídos para preparar Israel para sua vinda —, nem ser alvo da carnificina dos pagãos, quando deveria ser Ele o Rei por quem os judeus dariam a própria vida para proteger. Não precisaria que Ele fosse desnudado diante de todos, escarnecido, ridicularizado, tratado como criminoso hediondo. Tampouco sentir-se rejeitado pela pessoa que mais amava: sentir-se abandonado pelo próprio Deus.
Tudo isso foi necessário para matar não apenas o corpo, mas a alma santa de Jesus. Ao assumir inteiramente nossa natureza na encarnação e morrer plenamente na carne — ou seja, no corpo físico e na alma que sustenta esta existência passageira que chamamos de vida — o Verbo cancelou o documento que nós mesmos redigimos contra nós, ao gravarmos nossos pecados em nossa história de vida pessoal.
Por isso, quando Nosso Senhor afirma ser o Caminho, o modelo e a porta; quando declara que, onde Ele estiver, ali também estará seu discípulo; e quando adverte que, se trataram mal o Senhor da casa, o mesmo fariam aos servos — Ele deixa claro que, para nós, também não há outro caminho. Não existe outra alternativa de sermos verdadeiramente felizes, de sermos resgatados do pecado, senão morrendo na carne: no corpo físico e na alma que sustenta esta existência efêmera (ameaçada de desaparecer brevemente).
Em comunhão com Aquele que venceu a nossa morte espiritual, também nós não morreremos no espírito, também não nos separaremos do amor de Deus, também ressuscitaremos na carne — corpo e alma — e viveremos plenamente na eternidade!
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