Há alguns anos, uma amiga evangélica disse-me com convicção que não existe intercessão dos santos porque quando as pessoas morrem elas dormem e só acordarão no último dia, quando forem ressuscitadas.
De imediato, não consegui aceitar essa definição, pois, como católico, creio que podemos pedir a intercessão de alguém que morreu na graça de Deus para algo que nos parece difícil ou até impossível. Fazemos isso partindo do princípio de que, se eu posso pedir a um irmão evangélico que ore por mim quando estou fragilizado, por que eu não poderia fazer o mesmo em relação a uma pessoa que está no Céu, em plena comunhão com Deus?
Os santos são a atualização de Cristo na história. Eles viveram o Evangelho de forma concreta em seu tempo, sendo um testemunho vivo do único caminho, que é Jesus.
Alguns protestantes (não todos) interpretam o estado da alma após a morte de forma diferente dos católicos, baseando-se nas seguintes passagens:
"Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os outros que não têm esperança". (1a Tessalonicenses 4, 13)
"E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom. Mas Jesus falara da sua morte; eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono. Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu". (João 11, 11-14)
Alguns irmãos protestantes entendem essa passagem de forma literal, como se a alma ficasse inconsciente até a ressurreição. No entanto, Jesus estava usando uma metáfora para a morte física, e não para um estado de inconsciência da alma. O próprio contexto deixa claro que “dormir” era uma forma de se referir à morte, pois logo depois Jesus afirma com todas as letras: “Lázaro morreu.”
"Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem muito menos têm eles recompensa daí em diante; porque a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Tanto o seu amor como o seu ódio ou a sua inveja já pereceram; daí em diante, eles não têm parte para sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol. Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças; porque o lugar dos mortos, para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma." (Eclesiastes 9, 5-6.10)
Nesta última passagem, alguns protestantes interpretam que, ao morrer, a alma não apenas ‘dorme’, mas também perde completamente a lembrança de sua vida terrena, incluindo seus familiares e amigos.
Perguntemos com base no bom senso:
- Isso não contradiz o amor de Deus? Afinal, Jesus nos ensina que o amor é eterno, e nossa relação com Ele não se apaga após a morte.
Agora perguntemos com base bíblica:
- Como o Senhor Jesus irá declarar para nós: "todas as vezes que fizermos o bem a um de seus irmãos mais pequeninos, foi a Ele mesmo que nós o fizemos". (Mateus 25, 40), se não nos lembrarmos de nada do que fizemos aqui, nesta vida atual?
O que a passagem de Eclesiastes nos alerta é que a vida presente é uma oportunidade que não podemos desperdiçar. Devemos fazer as boas obras enquanto estamos vivos, "enquanto estamos debaixo do sol", porque depois que morrermos se esgotarão as chances de realizá-las. Devemos imitar Jesus conforme nossas forças. O Céu é para os combatentes e não para os que se consideram perfeitos e impecáveis.
A fé católica ensina que a alma, se estiver em estado de graça na separação do corpo e da alma (a qual chamamos morte), o corpo adormece, mas sua alma permanece viva em Deus. O corpo dorme na terra aguardando a ressurreição enquanto que a alma comparece ao juízo particular. Podemos comprovar esta verdade nas passagens, abaixo:
"Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus, (...) não lestes o que Deus vos disse: 'Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó'? Ora, Ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos." (Mateus 22, 28-30b.32)
"Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra?" (Apocalipse 6,9-10)
Aqui vemos as almas dos mártires clamando a Deus, mesmo antes da ressurreição final. Se estivessem dormindo no sentido literal, como poderiam estar conscientes e intercedendo?
Lucas 9, 28-31: "Passados uns oitos dias, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu ao monte para orar. Enquanto orava, transformou-se o seu rosto e as suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que falavam com ele dois personagens: eram Moisés e Elias, que apareceram envoltos em glória, e falavam da morte dele, que se havia de cumprir em Jerusalém."
Se Moisés e Elias falaram com Jesus, como então os mortos dormem após a morte?
Nosso Senhor Jesus Cristo é três vezes Santo, nunca pecou, então por que ele falaria com os mortos, se a Palavra de Deus diz:
"Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou A INVOCAÇÃO DOS MORTOS." (Deuteronômio 18,10-11)
Porque, como disse Santa Teresinha do Menino Jesus: "Quem morre em comunhão com Deus, não morre, entra na vida!"
Quando dormimos para este mundo, acordamos para a vida eterna:
"Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, da assembléia festiva dos primeiros inscritos no livro dos céus, e de Deus, juiz universal, e DAS ALMAS DOS JUSTOS QUE CHEGARAM À PERFEIÇÃO". (Hebreus 12, 22-23)
Se fala-se, nesta passagem, que nós nos aproximamos das almas dos justos que chegaram a perfeição (ou seja, dos santos), como, então, eles estão dormindo?
O movimento protestante surgiu com a intenção de corrigir excessos na Igreja, mas isso não significa que devamos abandonar verdades fundamentais da fé. Como ensina São Paulo: "Examinai tudo e abraçai o que é bom". (1a Tessalonicenses 5, 21)
Pedir a intercessão dos santos não é obrigatório, mas nos torna mais humanos e próximos de Jesus, especialmente através da intercessão de Maria, a Mãe do nosso melhor amigo, aquele que deu a vida na cruz para nos salvar: "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos." (João 15, 13)
O que a fé católica declara na oração "Creio em Deus Pai" é que existe a comunhão dos santos, existe uma comunhão de amor entre os que morreram em Cristo e os que esperam Nosso Senhor voltar em Glória, e que, nesta comunhão, somos beneficiados!
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