Neste post gostaria de detalhar o capítulo 24 do Evangelho de São Mateus em razão do medo que tantas vezes senti ao ler este capítulo por ver tantas profecias que me pareciam confusas e causavam-me insegurança.
Espero que a explicação que exponho aqui acalme o seu coração como acalmou o meu também.
Vamos ao capítulo:
"1. Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-no apreciar as construções. 2. Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído. 3. Indo ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo?"
Observemos aqui que são duas perguntas distintas: "quando acontecerá isto?" (que Jesus acaba de dizer, ou seja, a destruição do templo) e "qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo?"
A destruição do Templo construído por Salomão filho de Davi é um marco essencial na compreensão deste capítulo, tanto assim, que podemos separar as profecias nas que referem-se a destruição do Templo e nas que referem-se a época que ocorreu depois da destruição do Templo.
"4. Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza. 5. Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E seduzirão a muitos. 6. Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não será o fim. 7. Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. 8. Tudo isto será apenas o início das dores. 9. Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações. 10. Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão. 11. Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. 12. E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos esfriará. 13. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo. 14. Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim."
Na leitura acima, Jesus responde a segunda pergunta, ou seja, sobre os sinais da volta dEle e do fim do mundo, e em seguida (abaixo) Ele descreve sobre a destruição do Templo:
"15. Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9,27) - o leitor entenda bem - 16. então os habitantes da Judeia fujam para as montanhas. 17. Aquele que está no terraço da casa não desça para tomar o que está em sua casa. 18. E aquele que está no campo não volte para buscar suas vestimentas. 19. Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentarem naqueles dias! 20. Rogai para que vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de sábado; 21. porque então a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo até o presente, nem jamais será. 22. Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia; mas por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados."
Em 40 d.C. o Imperador Calígula proclamou-se deus e obrigou todas as províncias de Roma, inclusive a Judeia, a cultuá-lo oferecendo-lhe sacrifícios. Calígula chegou a exigir que uma estátua do Imperador fosse colocada no Templo: essa foi a concretização da profecia predita pelo profeta Daniel (Daniel capítulo 9, versículo 27).
Em 70 d.C., o comandante romano Tito sitiou Jerusalém deixando o povo sem comida e sem água, invadiu a cidade, trucidou os judeus, matando-os e destruindo o Templo.
Jesus diz que seria melhor que a fuga dos judeus não fosse no sábado porque os doutores da lei proibiam o povo de andar mais que 1,1 Km, se andassem mais que essa distância, estariam cometendo uma grave infração da lei judaica.
Depois de falar sobre o marco deste capítulo, Jesus volta a narrar sobre os sinais da volta dEle e do fim do mundo:
"23. Então se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou: Ei-lo acolá!, não creiais. 24. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se isto fosse possível, até mesmo os escolhidos. 25. Eis que estais prevenidos. 26. Se, pois, vos disserem: Vinde, ele está no deserto, não saiais. Ou: Lá está ele em casa, não o creiais. 27. Porque, como o relâmpago parte do oriente e ilumina até o ocidente, assim será a volta do Filho do Homem. 28. Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres."
A expressão "Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres." refere-se justamente aos falsos profetas, aos "mercenários que não são pastor" (João 10, 12). Jesus está dizendo que onde houver um morto espiritualmente exalando a morte através do seu discurso, prometendo riqueza e conforto, levando as pessoas a amar a Deus por interesse, ali estarão crentes não em Jesus que disse: "Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me." (Mateus 16, 24), mas num falso deus da facilidade que recebe nomes bonitos como "Deus do Impossível" ou "Deus de Milagres". Jesus disse: "Nenhum servo pode servir a dois senhores: ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não se pode servir a Deus e ao Dinheiro (Lucas 16, 13)".
"29. Logo após estes dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências dos céus serão abaladas. 30.Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu cercado de glória e de majestade. 31. Ele enviará seus anjos com estridentes trombetas, e juntarão seus escolhidos dos quatro ventos, duma extremidade do céu à outra."
Nos versículos acima, Jesus trata especificamente de como será o fim, de como a maldade será desenraizada da criação. Nosso Senhor fala sobre a finalidade para qual converge todas as coisas: a extinção do mal para sempre!
"32. Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo. 33. Do mesmo modo, quando virdes tudo isto, sabei que o Filho do Homem está próximo, à porta."
Em outras palavras, desde a concretização da profecia sobre a destruição do Templo até os dias de hoje, nós que amamos Jesus devemos estar preparados. Como? Vivendo a misericórdia. Só a misericórdia conta para Deus. A lei serve para nos acusar de nossos pecados e levar-nos a achar que não merecemos o Reino dos Deus (e não merecemos mesmo!), nós só adentraremos no Mundo Novo se formos perdoados, se Deus usar de misericórdia para conosco. Quem sinceramente assume o perdão de Deus em sua vida, procura fazer o que é certo porque é constrangido pelo Amor de Deus a parar de fazer "gols contra" a si mesmo e a colaborar com a sua Salvação.
"34. Em verdade vos declaro: não passará esta geração antes que tudo isto aconteça. 35. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão."
Nessa frase Jesus (que é 100% Homem e 100% Deus) ratifica a sua palavra dita a Moisés em Êxodo 32, 7-14, dizendo que os judeus existirão até a concretização destas profecias.
Quando Jesus usa a expressão "essa geração", Ele refere-se especificamente aos judeus. Como em Mateus capítulo 12, versículo 39: "Respondeu-lhes Jesus: Esta geração adúltera e perversa pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal do que aquele do profeta Jonas.".
"36. Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai. 37. Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. 38. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. 39. E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem. 40. Dois homens estarão no campo: um será tomado, o outro será deixado. 41. Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho: uma será tomada a outra será deixada. 42. Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor. 43. Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa. 44. Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes."
"45. Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o Senhor constituiu sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno? 46. Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim! 47. Em verdade vos digo: ele o estabelecerá sobre todos os seus bens. 48. Mas, se é um mau servo que imagina consigo: 49. - Meu senhor tarda a vir, e se põe a bater em seus companheiros e a comer e a beber com os ébrios, 50. o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e na hora em que ele não sabe, 51. e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes."
O servo fiel e prudente ao qual Jesus se refere neste último versículo é o discípulo que vive a misericórdia: este é o servo fiel e prudente. É a misericórdia que nos salva e não uma mecânica "aceitação de Jesus": "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!" (Mateus 5, 7). No último versículo do capítulo, Jesus faz uma ligação direta entre falta de misericórdia e hipocrisia dizendo: "o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes."
E assim termina o Capítulo 24 do Evangelho de Mateus.
Como disse no início, redigi este texto para ajudar as pessoas que têm medo das profecias sobre o fim do mundo.
Jesus voltará com certeza, mas a parte que nos cabe não é especular a data ou aterrorizar às pessoas dizendo: "Jesus vai voltar, hein?!", quase como uma mãe dizendo ao filho: "Quando o seu pai chegar, você vai apanhar, hein?!".
A nossa parte é sermos apóstolos da misericórdia, é fazer como João Batista que preparou o caminho do Senhor dizendo à multidão: "Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo. (Lucas 3, 11)".
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