O Purgatório é uma etapa necessária para a maioria dos eleitos que entrarão na Jerusalém Celeste; é uma purificação dos resquícios de maldade que provavelmente restarão em nós.
O critério para entrar no Céu é amar como Jesus amou. Porém, por mais que nos esforçamos hoje, não estamos ainda irrepreensíveis; mesmo confessando nossas faltas, ainda resta a necessidade de reparar os danos morais que elas causaram
Mas o dom da Salvação não é gratuito?
Sim! Ninguém é digno do Céu por seus próprios méritos. A realidade do Purgatório não tem a ver com ‘pagar o karma’ para merecer o Céu. Não! Não se trata disso, e sim de justiça divina. É questão de justiça. Imagine que você seja convidado a vir à minha casa tomar um café e que eu precise sair por alguns instantes por alguma necessidade. Durante o período em que confiei de deixar você na minha casa, em um acesso de loucura, você a destrua, quebre meus móveis, meus eletrodomésticos, revire minhas coisas, rasgue meus livros, meus documentos... No meu retorno, ao me deparar com aquele estrago e ao mesmo tempo receber o seu pedido de desculpas, por considerar que você está realmente arrependido(a), eu te perdoo, te abraço, te absolvo. Porém, a minha casa estará destruída. O meu perdão não anula as consequências do teu erro. Então proponho o seguinte: vamos reconstruir a minha casa. Eu ajudo você. O meu amor te fortalece, mas vamos restaurar a minha morada!
Assim é Deus conosco. Ele nos ama, nos oferece a graça, o brilho nos olhos para viver, mas é preciso que reparemos as nossas faltas. Tudo o que fizemos de mau e também todo o bem que deixamos de fazer precisa, por justiça, ser reparado. O problema é que podemos falecer antes de contribuir com essa restauração e morremos com “as vestes sujas”. Não só questão de uma exigência divina, mas também um dever moral. Com que cara iríamos abraçar a Deus se, ao contemplar a sua face, nos lembrássemos de todos que maltratamos em nossa vida terrena?
“Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.” (Mateus 25,40)
Para ajudar na compreensão deste dogma de fé, pesquisei algumas citações:
“Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo.” (I Coríntios 3, 11-15)
“Porque todo homem será salgado pelo fogo.” (Marcos 9, 49).
A respeito de Jesus, disse João Batista: “Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. Tem na mão a pá, limpará o seu quintal e recolherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível.” (Mateus 3, 12)
“Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça. E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz! Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto.” (Sabedoria 3,1-3.6)
“Quando havia reunido seu exército, Judas Macabeu alcançou a cidade de Odolão e, chegando o sétimo dia da semana, purificaram-se segundo o costume, celebrando ali o sábado. No dia seguinte, Judas Macabeu e seus companheiros foram tirar os corpos dos mortos (na guerra), como era necessário, para depô-los na sepultura ao lado de seus pais. Porém, sob a túnica de cada um encontraram objetos consagrados aos ídolos de Jânia, proibidos aos judeus pela lei: todos, pois, reconheceram que fora esta a causa de sua morte. Bendisseram, pois, a mão do justo juiz, o Senhor, que faz aparecer as coisas ocultas, e puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo do pecado cometido. O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar qualquer transgressão, ao ver diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que foram mortos por causa dos pecados. Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: um belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício reparador para que os mortos fossem livres de suas faltas.” (II Macabeus 12, 38-46)
“Se os filhos de Jó foram purificados pelo sacrifício do seu pai por que duvidar de que as nossas oferendas pelos defuntos lhes levam alguma consolação? [...] Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer por eles as nossas orações.” (São João Crisóstomo)
“Pelo que diz respeito a certas faltas leves, deve crer-se que existe, antes do julgamento, um fogo purificador, conforme afirma Aquele que é a verdade, quando diz que, se alguém proferir uma blasfêmia contra o Espírito Santo, isso não lhe será perdoado nem neste século nem no século futuro (Mateus 12, 32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas neste mundo e outras no mundo que há de vir.” (São Gregório Magno)
Nós católicos cremos na comunhão dos santos, no intercâmbio de amor entre a Igreja Militante (constituída pelos que batalham nesta Terra), a Igreja Padecente (formada pelos que estão no Purgatório) e a Igreja Triunfante (os que já contemplam Deus na glória)!